Fotografia tirada por Paulo Reis Modelos: eu e a minha vida |
Apanhar o comboio em movimento... licença para ser mãe, "Dr. dá licença?", a licença acabou e agora?.. a sentir-me nostálgica ...são pequenos títulos que passam em slow motion na minha mente.
Quando a volatilidade da vida, surpreendentemente rápida, se cruza com este tipo de pensamentos em slow motion, levanta em nós sensações estranhas!
Lá porque não vejo a correria do dia a dia e da sociedade laboral, vivo e sinto! O meu coração bate e os meus pulmões respiram!!
A confusão é tremenda ...licença alargada?!
Que mal fiz eu?! Que olhares são estes, de quem não sabe que gosto e tenho o direito de estar com o meu recém bebe!
...Temo que terei à força, e rapidamente tornar-me sofisticada e com menos sentimento à flor da pele...a menos que queira um rótulo!
Sim, sofisticada! e assim talvez possa passar melhor neste teste, que se intitula licença!
Sofisticada para deixar de ser uma mulher vintage... Vintage no amor, vintage na sociedade, vintage, vintage na... Maternidade!
Anular a mulher Vintage porque tem que ser! A mulher moderna é laboral e é cool porque corre e já não faz tricot devagarinho!
... 100% laboral ou 100% mãe...haverá um meio termo neste processo licença/trabalho?!
Que saudades dos meus dias de intensa atividade profissional... Que pânico dos dias em que não pararei, terei fome e a bexiga cheia...OH Jesus que angustia dos dias que não terei tempo para telefonar à minha filha!!!
Gosto de fazer sopas boas e de acordar cedo, gosto de andar bonita pela casa, mesmo sem ir para o gabinete onde trabalho, gosto de ir ao mercado comprar peixe e vegetais, gosto de dar de mamar seja em casa, seja em publico..
Bolas, sinto-me confusa, e a sociedade por vezes é tão exclusiva!..
Chego a ter pavor da solidão, afinal agora sou 100% mãe, quem se lembrará de mim própria? Que medo da superficialidade e do descartável...já se esqueceram de mim? porque me olham como se estivesse nas tintas para tudo e só olhasse para um bebe...
OI! Estou apenas a ser mãe!!! estou apenas a gozar a minha licença, mas ainda assim sou criativa e trabalhadora! imaginam aquilo que sou capaz de fazer e de produzir em pouco tempo?... imaginam como é bom ser mãe e fazer tudo isso a pensar também ?!... já sentiram o mesmo? Já pararam também para esse tempo, de reflexão e recolhimento.?. Haverá forma de nesta luta laboral e sofisticada de arranjar forma de nos ligarmos e falarmos ... estarmos presencialmente com quem gostamos, de sermos mães e produzirmos simultaneamente?
Ou será socialmente obrigatório que tenhamos que dar tudo de nós aos filhos e aos maridos durante o período de licença de maternidade e à posteriori apenas nos será aceite que disponibilizemos uma mini mínima percentagem para esse efeito?
Estaremos a deixar de ser sensatos?
Serei old fashion por pensar assim ?! ...Ou será que é a sociedade que nos transmite isto ("entre linhas") não nos permitindo esta vivência legalmente protegida?
Será possível viver uma licença de maternidade e uma carreira profissional ambas dignas de sucesso?
Estarão as famílias portuguesas, realmente protegidas e no centro das atenções sociais?
Ou estaremos nós a usufruir de presentes voláteis e inconsistentes que embora ótimos duram apenas 5 meses, na melhor das hipóteses 8 meses?
A complexidade da maternidade não termina no ultimo dia de licença de maternidade e a invalidade da mulher "normal"/"trabalhadora" não começa no primeiro dia depois do parto!
Termino esta minha reflexão que escrevi há cerca de 1 ano e meio, com a ajuda de uma recente emitida pela Princesa Kate de Inglaterra:
"Nada nos pode preparar para a experiência esmagadora que é tornarmo-nos mães. São emoções complexas de alegria, exaustão, amor e preocupação todas juntas. A nossa identidade muda do dia para a noite. Vamos da fase em que pensamos essencialmente em nós como indivíduos para uma outra em que somos mães acima de qualquer outra coisa".
A duquesa prosseguiu salientando que "não existe um manual de instruções" que diga "o que está certo e o que está errado". "Só temos de fazer o que temos a fazer da melhor forma que conseguirmos para cuidarmos da nossa família", acrescentou a mãe de George, de três anos, e Charlotte, de quase dois." retirado de JN Março 2017
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